Fonte: mapadaobra.com.br
Incertezas estão presentes em todo o canteiro de obra, até mesmo em construções com alto nível de planejamento. No caso da fundação de uma edificação o cuidado na decisão deve ser ainda maior.
Logo que um construtor inicia o projeto de sua obra, ele se depara com uma das decisões mais impactante do seu empreendimento: definir qual tipo de fundação irá executar para sustentar sua edificação. Ainda mais desafiante que optar por um ou outro método, é lidar com a possível carência de conhecimento técnico do proprietário da obra, em que muitas vezes culmina na total “terceirização” da tomada de decisão ao projetista ou aos fornecedores que executam o serviço. Todavia, a inexistência de discussões sobre o tema pode ocasionar indesejados custos ou até mesmo problemas à edificação.
Quais são os tipos de fundações?
Neste artigo irei me deter apenas nos casos de fundações mais comuns aqui no Brasil, para obras da civis (edificações uni e multifamiliares, comerciais e industriais). Deste modo, as fundações serão classificadas em dois grandes grupos: rasas (também chamadas de “diretas”) e profundas.
Fundações rasas: caracterizam-se pela mobilização de pequenos volumes de escavação, na qual a base do elemento de fundação deve ser obrigatoriamente apoiada em camadas superficiais de solo com resistência adequada. Possuem baixo custo de execução, devido o menor consumo de material e por não ter a necessidade de maquinário para a realização das escavações. Como exemplo deste tipo de fundação têm-se: Sapatadas, Blocos e Radiers.
Fundações profundas: diferentemente da anterior, as fundações profundas caracterizam-se por provocar movimentações de solo e auxílio de maquinário, sendo necessário que as cargas sejam distribuídas em camadas profundas do solo. Essas estruturas costumam ser utilizadas em solos com baixa capacidade de carga superficial para o projeto proposto. Como exemplo desta fundação, destacam-se: Estacas Cravadas, Hélice Contínua e Raíz.
E quais os critérios para escolher um ou outro tipo de fundação?
De fato, essa análise cabe ao projetista de fundação ou estrutural. Mas como citado anteriormente, o cliente deve ter participação ativa neste processo, uma vez que os custos envolvidos com fundação podem até inviabilizar um empreendimento.
A escolha sobre qual fundação realizar está condicionada à análise do sistema: carga + nível do lençol freático + composição e resistência do solo na qual a edificação será construída. Para isso, além do projeto estrutural é imprescindível a realização de uma investigação geotécnica para analisar a composição do subsolo no terreno.
Segundo a norma NBR-15.492, existem números mínimos de ensaios de sondagem a serem realizados de acordo com a área do terreno, então atente-se: um único ensaio é raramente um parâmetro seguro. Analisar quais fundações foram utilizadas nas edificações no entorno podem servir como insumo complementar para entender o comportamento do solo local.
Tais laudos de sondagem, analisado com as cargas estruturais indicam a fundação que melhor atenderá à questões de desempenho e segurança da edificação. Vale comentar que, em caso de fundações profundas, alguns fornecedores que executam este serviço, também realizam o projeto ao cliente. Nestes casos, toda atenção é necessária, pois o super dimensionamento de projetos resultam em maiores gastos, uma vez que a maioria das cobranças são realizadas por metro linear executado (logo, quanto mais profunda a fundação, maior o custo).
Cuidados com cada tipo de fundação
Sapatas: independente do porte da edificação, a execução ou não de sapatas está vinculada às resistências das camadas mais superficiais do solo (portanto, se engana quem acha que toda casa será sempre executadas sobre sapatas). Outros cuidados que se deve ter é garantir o traço e cura correta do concreto e, sobretudo, o contato entre o solo e a armadura. O contato direto pode acarretar na corrosão do metal (recomenda-se a execução de um “colchão” de concreto ou brita na área onde será assentada a sapata).
Radiers: trata-se de uma laje ou placa de concreto armado. Recomendado para edificações nas quais as sapatas necessitam de uma área de contato muito grande ou quando o recalque (“assentamento” do solo) previsto é muito grande (comumente utilizado em solos superficiais de média ou baixa resistência). Semelhante à sapata, os cuidados entre contato solo/armadura são de grande importância. Além disso, por utilizar maiores volume de concreto, a correta cura (hidratação) do elemento estrutural nas primeiras 72 horas evita fissuras e perdas na resistência. Por fim, lembre-se de executar as instalações elétricas e hidráulicas previstas em projeto.
Estacas cravadas: também conhecidas como “bate-estacas”, estas são utilizadas em edificações de qualquer porte e executadas sob solo de baixa resistência superficial. No caso de estacas em madeira, o principal cuidado está vinculado à variação do nível do lençol freático (os ciclos de exposição em água e ar gera desintegração da madeira). Já em estacas de concreto e aço, o ponto sensível é a junção entre segmentos de estacas, que se for mal feito pode causar diminuição na função de suporte da estrutura.
LEMBRE-SE! Atualmente, a execução deste tipo de estaca em regiões residenciais e comerciais densas está limitada, por conta do excesso de ruídos e vibrações existente no processo de cravação (podendo comprometer edificações vizinhas). Por isso é um processo mais comum em áreas industriais. De qualquer forma, é sempre recomendado a verificação nos órgãos de fiscalização local.
Estacas escavadas: devido o impedimento de realizar a cravação de estacas em locais com alta densidade de edifícios, uma solução é a execução de estacas escavadas. A estaca Hélice Contínua é a mais comum, por conta da rapidez e praticidade na execução com baixo nível de vibração e ruído. Todavia, em casos de existência de rochas, possivelmente uma solução seja o uso de estacas Raiz (custo muito superior à estaca Hélice Contínua) ou em casos do maciço rochoso estar próximo à superfície, o uso de sapatas fixadas na própria rocha. Cabe ao engenheiro projetista, juntamente com o cliente, analisar o melhor custo benefício.
E como avaliar o custo?
O custo para execução varia de acordo com a técnica empregada e também com o perfil do solo onde será construída a edificação. Uma vez escolhida o método executivo para sua obra, recomenda-se a pesquisa de materiais e fornecedores que atendem requisitos de qualidade exigidos por norma. O uso de ferramentas de pesquisa e cotação destes insumos, facilitam o acesso a cadeia de fornecedores aptos a melhor lhe atender.
Sapatas e radier: em caso de sapatas ou radiers, considerando que o construtor possua equipe de mão-de-obra, os materiais a serem orçados são, basicamente, aço e concreto.
Estaca cravada: além da cotação do elemento estrutural a ser cravado (normalmente estacas de concreto pré-moldado), o custo de execução é composto de uma equipe especializada no processo de cravação através de máquina, e uma equipe de topografia, que auxilia na locação das estacas determinadas em projeto.
Estaca escavada: Em edificações nas quais a opção seja estacas escavadas, como Hélice Contínua, além do concreto e aço, o construtor necessita orçar a prestação de serviço de execução das estacas e serviços topográficos. É possível que necessite a contratação de máquinas auxiliares na movimentação de solo em decorrência das perfurações.
Para a realização de orçamentos desta técnica, é obrigatório informar aos fornecedores os laudos de sondagens + projetos estruturais + planta de carga da edificação. Como prática de mercado, existem fornecedores que orçam a execução completa da fundação (projeto + execução + materiais) e outros apenas a execução do serviço, cabendo ao construtor o orçamento e compra dos demais. De qualquer forma, é altamente recomendado a realização de cotações comparativas entre as duas opções, para avaliar o melhor custo benefício.
Conclusão
Como você pode ver, inúmeros fatores podem estar envolvidos na escolha da fundação correta para sua obra. A participação do construtor (não somente dos responsáveis técnicos) na decisão é importante para garantir a melhor escolha. A última dica então é que não necessariamente o cliente precisa ser um expert no assunto, mas uma base de conhecimento é importante para sustentar ações que poderão evitar uma dor de cabeça futura e contribuir para o sucesso de sua obra!
Autor: Marcos Felipe Nuernberg
Fonte: http://www.conazsolucoes.com.br/2017/05/25/fundacao-para-sua-obra/
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